domingo, 2 de setembro de 2012

Alguém escreveu o que eu queria ter escrito

                                      A ARTE DE SER FELIZ
Recebi de uma amiga este  apelo: “Existe alguma receita capaz de fazer uma pessoa se apaixonar por algo  - seja o que for??? Nem precisa ser coisa transcendental. Algo que dê um  sentido à vida. Não que a vida seja desprovida de sentido, mas desprovida de  sabor.
“É claro que estou me referindo a mim, e posso até estar  sendo exigente demais, ou cruel demais com a minha pessoa. Mas é esta a  reflexão de hoje, de agora. Me dou conta de que não tenho paixão alguma. Pelo  menos é o que a minha mente me fala e o que percebo. Isso me faz sentir falta  de algo...
“Tem gente que gosta de corrida de carros, de cavalos,  de barcos. Gente que ama fazer tricô, escalar montanhas, meditar hoooooras a  fio; gosta de ler, de ser médico, jornalista, político até. Puxa vida... como  admiro isso. A vida frenética das cidades pulsa em algumas pessoas, e a vida  pacata do campo, em outras. Tenho alegrias e uma normalidade ética permeada  por um bom senso bem bacana. Mas eu sinto (até irracionalmente), de forma  muito forte, a impermanência.
“Um dia você disse que gostaria de  ser semente. Refleti sobre e... nada aconteceu. O ritual inevitável da  convivência e tudo o que envolve as relações interpessoais, somados a um bom  astral, já cuidam disso. Queria me apaixonar. Ter um hobby. Qualquer um. 
“Alegrias são muitas. Tenho o sorriso fácil... Mas a felicidade  é coisa rara, de frágeis e preciosos momentos. Tenho uma implicância danada  com aquela música do Zeca Pagodinho que diz: "...deixa a vida me levar... vida  leva eu..." Quero sentir um sentido. A vida, o planeta, a diversidade  religiosa, etc, são assombrosos de tanto infinito. Mas permaneço no raso. Sem  querer explorar o seu tempo e os seus insights... digo: gostaria de saber o  que você teria a dizer sobre isso.”
Fiquei pensativo. Há pessoas  que me julgam portador de respostas para os impasses da vida. Mal sabem elas  quantos acumulo em minha trajetória. Contudo, sei o que é felicidade. Difere  da alegria. Felicidade é um estado de espírito, é estar bem consigo, com a  natureza, com Deus. Com os outros, nem sempre. As relações humanas são  amorosamente conflitivas. Invejas, mágoas, disputas, mal-entendidos, são  pedras no sapato.
Alegria é algo que se experimenta  eventualmente. Uma pessoa pode ser feliz sem parecer alegre. E conheço muitos  que esbanjam alegria sem me convencerem de que são felizes.
Após  meditar sobre a consulta de minha amiga, respondi: “Querida X: diria que a  primeira coisa é sair da toca... Enturmar-se com quem já encontrou algum  sentido na vida: a equipe de jogo de xadrez, a turma do cinema de arte em  casa, o grupo político, a ONG da solidariedade etc. É preciso enturmar-se ,  sentir a emulação que vem da comunidade, dos outros, esse entusiasmo que, se  hoje falta em mim, exala do companheiro ao lado...
“Você pode  encontrar a paixão de viver em mil atividades: ler histórias num asilo, ajudar  voluntariamente num hospital pediátrico, costurar para uma creche ou  participar de um partido político, um grupo de apoio a movimentos sociais;  alfabetizar domésticas e porteiros de prédios ou se dedicar a pesquisar a  história do candomblé ou por que tantos jovens buscam na droga a utopia  química que não encontram na vida.
“Mas, sobretudo, sugiro  mergulhar numa experiência espiritual. Mergulhar. É o que, agora, nesta manhã  luminosa de Cruz das Almas (BA), me vem à cabeça e ao coração.” 
O sábio professor Milton Santos, que não tinha crença religiosa,  frisava que a felicidade se encontra nos bens infinitos. No entanto, a cultura  capitalista que respiramos centra a felicidade na posse de bens finitos. Ora,  a psicanálise sabe que o nosso desejo é infinito, insaciável. E a teologia  identifica Deus como o seu alvo.
Ninguém mais feliz, na minha  opinião, do que os místicos. São pessoas que conseguem direcionar o desejo  para dentro de si, ao contrário da pulsão consumista que faz buscar a  satisfação do desejo naquilo que está fora de nós. O risco, ao não abraçar a  via do Absoluto, é enveredar-se pela do absurdo.
Como o Mercado,  que tudo oferece em sedutoras embalagens, ainda não foi capaz de ofertar o que  todos nós mais buscamos – a felicidade - então tenta nos incutir a idéia de  que a felicidade resulta da soma dos prazeres. Possuir aquele carro, aquela  casa, fazer aquela viagem, vestir aquela roupa... nos tornará tão felizes  quanto o visual dos atores e atrizes que aparecem em peças  publicitárias.
Tenho certeza de que nada torna uma pessoa mais  feliz do que empenhar-se em prol da felicidade alheia: isto vale tanto na  relação íntima quanto no compromisso social de lutar pelo “outro mundo  possível”, sem desigualdades gritantes e onde todos possam viver com dignidade  e paz.
O direito à felicidade deveria constar na Declaração  Universal dos Direitos Humanos. E os países não deveriam mais almejar o  crescimento do PIB, e sim do FIB – a Felicidade Interna Bruta. 
Autor: Frei Betto 
Escritor, autor do romance “Um homem  chamado Jesus”

                 
Gente (agora eu falando)...Nunca li algo que parecesse tanto com algo que eu queria ter escrito. Assim, apenas copiei e colei por que deste não tiraria nenhuma uma virgula, nenhuma palavra, nenhum um ponto. 

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